SETHICO
Convidamos vocês para uma travessia pelo Recife. Iniciamos pelas águas do Capibaribe, por onde muitas pessoas traficadas de África entraram no Brasil, empilhadas nos porões dos navios negreiros. Seguimos para a Cruz do Patrão, Igreja do Rosário dos Homens Pretos, a Ponte de Ferro, o Mercado da Boa Vista – que já foi um cemitério de negras e negros escravizados; a Casa da Cultura – Antiga Casa de Detenção do Recife; Monumento a Zumbi dos Palmares – quase invisível no meio da paisagem da Praça do Carmo e terminamos no Marco Zero, no exato encontro com o Rio, onde tudo começou. Esses lugares, hoje cartões postais da capital pernambucana, são o cenário e o símbolo do massacre de muitas vidas negras. Apesar de tudo isso, encontramos formas de sobreviver à feiura do mundo. A videoarte SETHICO se inspira na filosofia Kemética, do Antigo Egito, e traz uma figura mítica que utiliza uma máscara africana da etnia Fang, numa alusão a Seth, o deus egípcio do caos. Não o caos que estamos vivendo, de massacre da vida negra, indígena, dissidente, diaspórica, mas aquele que dá origem a tudo o que existe. É Seth quem protege e quem destrói o mal. Ele é capaz de criar e controlar as tempestades; de secar a terra e criar oásis no deserto. Seth também tem o trabalho de ajudar as almas a caminho do céu e, todas as noites, luta contra a serpente Apóphis – o próprio caos. É por vencer essa batalha diariamente que mundo ainda não foi devorado pelo caos. Seth é o juiz e Sethico, o seu julgamento.